...contariam, de certeza, muitas histórias.
Mas como não falam, e não queremos que a memória da nossa Escola se perca, criamos este local onde todos são bem-vindos.
Esperamos que todos os que por aqui passaram (alunos, professores e funcionários) deixem qualquer coisa que nos ajude a construir esta memória e a manter a alma desta casa.
Área de Projecto 12º5
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8.5.09
A GRIPE EM PORTUGAL: “A PNEUMÓNICA”
Em Maio, a partir da fronteira espanhola, a gripe propaga-se por todo o país. O regresso a casa dos trabalhadores sazonais alentejanos vindos do país vizinho, particularmente de Badajoz e de Olivença, (os primeiros casos foram detectados em Vila Viçosa), as peregrinações e as ligações rápidas entre Madrid, Lisboa e Porto, levou à disseminação rápida da epidemia. Foi um surto breve, comum mortalidade de 6.6 por 100.000, ultrapassado em Julho, não encarado muito a sério, embora parte da comunidade médica não descansasse. Em fins de Agosto vários casos de pneumonia fulminante detectados em Vila Nova de Gaia alarmaram a população, que pensava tratar-se de um surto de peste pneumónica, semelhante a outro do princípio do século. As autoridades sanitárias negam o diagnóstico popular: tratava-se de uma forma altamente mortal de influenza.
Era o início da “segunda onda”. Nesta altura (princípios de Setembro) a Comissão Sanitária dos Países Aliados anuncia que o mesmo fenómeno se estava a processar noutros pontos da Europa especialmente entre os soldados.
Quando são atingidas as grandes cidades, as mortes súbitas, os colapsos e a síndroma de dificuldade respiratória aguda, aparecem em grande número, levam as populações a entrar em pânico, pois a gripe não estava habitualmente ligada a patologia tão severa, mas o diagnóstico continuava claro para as autoridades sanitárias.
Estas contudo desconheciam completamente as medidas para a combater. De Vila Nova de Gaia e do Porto a gripe estende-se a todo o Norte do país, levada principalmente pelos soldados a quem imprudentemente foi dada licença para regressar às suas regiões. As feiras, romarias, e vindimas tão comuns nessa altura do ano, levavam muitas populações e trabalhadores, dumas regiões para outras, disseminando velozmente a doença. Os estratos sociais mais privilegiados, com as suas deslocações para as termas ou estâncias balneares, foram outra das vias de disseminação.
Desde os fins de Setembro que os jornais davam notícias de uma “epidemia que zomba da medicina”, mas já havia populações dizimadas em várias comunidades nortenhas, particularmente em Amarante, onde as populações chegaram a esboçar movimentos de revolta.
Este surto trazia uma particularidade. Ao contrário do habitual, os casos mais graves e mortais atingia a população jovem. Este pormenor está pouco estudado. Possivelmente entre o vírus da pandemia de 1918 e o da pandemia de 1890 existissem alguns antigénios comuns, e muitos idosos de 1918, vítimas da gripe de 1890, teriam adquirido uma imunidade parcial que os defendeu contra as formas mais agressivas da doença.
No princípio de Outubro a Direcção Geral de Saúde impõe seis medidas profiláticas que vieram a revelar-se ineficientes: obrigatoriedades dos médicos informarem a DGS de todos os casos conhecidos; controlo das migrações; criação de hospitais improvisados, abastecimento das farmácias (quinino, cafeína, óleo canforado, etc.); organização de concelhos em áreas médicas - farmacêuticas, mobilização dos médicos, mesmo os reformados e, por fim, apelos à população para a formação de “comissões de socorro”.
Como em todas as situações limite, o excesso de zelo levou a adopção de medidas caras e inúteis, tais como a lavagem das ruas com cal e o retirar da circulação das notas de tostão por se pensar serem um meio de mais fácil contágio.
Na verdade, principalmente em Lisboa, a higiene pública era muito deficiente, levando a protestos da imprensa, que denunciavam o lixo nas escadas e a proliferação de estrumeiras e de pântanos.
O Partido Republicano Português forma uma comissão de socorro, o Sport Lisboa e Benfica cedeu a sua sede para reuniões, abrem-se inúmeras subscrições, como a do Diário de Notícias, as comunidades reúnem-se e instalam elas próprias hospitais locais. O governo tinha já em Setembro aberto um crédito especial de 300 contos, mas nenhuma das medidas tomadas teve a mínima influência sobre a marcha da epidemia. Se por um lado parte da sociedade se mobilizava no combate à doença, por outro os especuladores, os açambarcadores e os oportunistas aproveitavam-se da situação em seu próprio benefício.
A sociedade “vê a epidemia”. As mortes súbitas em plena rua, os funerais numerosos saindo dos seus próprios bairros, a morte e a doença dos que lhe prestavam habitualmente serviços (padeiros, leiteiros, empregados de lojas, carteiros, médicos, condutores dos meios de transportes que já eram escassos e, até, coveiros), e os sinos tocando a finados destruturam completamente as populações.
Foram mobilizados os transportes militares e a utilizados os camiões do exército, que recebiam nas esquadras a indicações dos doentes que deveriam transportar e iam recolhendo sucessivamente até completar a sua lotação, chegando os primeiros doentes a permanecer três horas nos carros, sem coberturas, em noites frias e ventosas. Muitos chegavam já mortos aos hospitais.
A morte foi banalizada. Os cadáveres amontoavam-se nas morgues, provocando grande pestilência, os funcionários dos cemitérios, sem mãos a medir, são acusados de falta de dignidade durante as suas funções, que consistiam também em transportar para valas comuns numerosos corpos embrulhados em serapilheiras. (corriam boatos de pessoas enterradas vivas).
Nos momentos mais críticos da epidemia, a confusão era tal, que impediu a discussão das suas causas e as possíveis soluções do problema.
Contudo nos fins de Outubro a imprensa ataca a Direcção Geral de Saúde, perguntando pelas “brigadas médicas”, pela “estratégia de ataque”, pela “disponibilização de automóveis” e “consciencialização das populações”.
Em todo o mundo civilizado passaram-se episódios semelhantes: ataques da imprensa às autoridades sanitárias, resposta destas com a ignorância e a impotência.
No resto do mundo a pandemia causa perturbações semelhantes. Os relatos parecem cópias uns dos outros.
Sabe-se pouco do que se passou na China e na Índia, onde parece que morreram mais de 20.000.000 de pessoas. Nos Estados Unidos são referidos 500.000 mortos. O Comando do Corpo Expedicionário Americano em França tinha pedido reforços e o governo americano convoca milhares de jovens de todo o país que, para serem inspeccionados, se mobilizam de uns lugares para outros, em plena segunda onda, contribuindo assim para a disseminação da epidemia e para uma maior mortalidade, que como é sabido afectava particularmente os jovens.
No Brasil, o jornal a Razão do Rio de Janeiro, contabiliza 11.373 óbitos entre os dias 15 e 31 de Outubro.
Calcula-se que mais de 40.000.000 de pessoas morreram com a epidemia de 1918. Portugal, com uma pequena população de 5.500.000, que desde os fins do século XIX até 1910 tinha visto a sua população aumentar a um ritmo razoável, a partir desse ano viu o seu crescimento diminuir, devido não só ao número elevado de emigrantes, mas também às múltiplas epidemias de tifo, febre tifóide e de varíola, culminando com a mortalidade de 1918.
Pela Estatística do Movimento Fisiológico da População Portuguesa de 1918, pode verificar-se que foram classificados 55.780 casos de óbitos com o diagnóstico de gripe, sendo de 54.394 o número de casos dos últimos seis meses. Contudo ao analisar os números das doenças ignoradas ou mal definidas verificamos que estes sobem dos 4.500 casos de média mensal para 18.801 em Outubro e 13.713 em Novembro, num total de 42.505 nos últimos seis meses, o que dá um total de 97.627. Se somarmos a estes números 3.039 casos da terceira onda em 1919 e um número proporcional de doenças mal definidas, facilmente se ultrapassa os 100.000 mortos. Note-se que na altura, muitas vezes a certidão de óbito era passado pela autoridade administrativa por falta de médicos, limitando-se esta a certificar que a morte era de “causa natural”.
Em Portugal a pneumónica levou a uma crise demográfica grave: um saldo fisiológico negativo em 1918 (menos 70.291) e um saldo fisiológico mínimo de 13.000 em 1919. Só a partir de 1920 o país reencontra o ritmo de crescimento adequado.
Pela leitura da imprensa fica a ideia de que a nação se preocupava mais com os acontecimentos descritos do que com um mero vírus que em poucos meses tinha ceifado “só” cerca de cem mil portugueses.
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Agradecimentos
Muitas pessoas nos ajudaram neste projecto. Os nossos agradecimentos para:
Dr Alberto Ferreira
Padre António Rodrigues
Arq Bernardo Távora
Drª Eulália Lima
Drª Eulália Lima
Drª Fátima Costa
Drª Fátima Martins
Dr Joaquim Loureiro de Amorim
Dr Luís Cristóvam
Eng. Mário Palmeira
Dr Raul Rodrigues
Dr Raul Rodrigues
e às funcionárias D. Palmira, D.Cristina,D. Luzia e Ana, e ao Sr. Luis, que nos entregavam os computadores e que nos ouviam as reclamações quando eles não funcionavam
e à D. São que nos arranjou sempre uma sala quando ficávamos sem local para trabalhar.
À Rita (funcionária do CE) que nos recebeu e nos ajudou sempre que necessitamos.
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